terça-feira, 21 de maio de 2024

Santos - Ponta da Praia em extinção - Cronologia e Análise - Parte VI


Finalmente, conforme proposto ao início desta Cronologia ( Santos - Ponta da Praia em extinção - Cronologia - Parte I ), terminamos a reapresentação da nossa série de 5 artigos sobre este assunto (originalmente publicados entre novembro/2012 e julho/2022).
 
Neles, aplicamos nossos melhores esforços em documentação fotográfica, gráficos, análises, sugestões de soluções baseadas em minha vivência e meu conhecimento destas praias.
 
Este artigo contém as nossas impressões sobre as intervenções implementadas e sobre o estado atual do problema.
 
Infelizmente, o assunto parece ter sido abandonado quanto ao seguimento dos resultados das intervenções realizadas, como se o problema houvesse sido resolvido e revertido.
 
 
Com relação à erosão na Ponta da Praia
 
Podemos dizer que a solução foi tímida, resultando na diminuição (quando muito, estabilização) da erosão e não na sua reversão.
 
Já evidenciamos que seria necessário melhorar o desenho e a dimensão dos bloqueios e/ou desvios dos fluxos de água que entram e saem do Canal do Estuário durante as marés-enchentes e marés-vazantes, quer esses bloqueios e/ou desvios sejam feitos por bags, quebra-mares, ou ambos.
 
 
Com relação ao assoreamento dos Canais 1 a 3
 
Podemos dizer que a solução foi incompleta.
 
Não resolveu o grave problema dos canais sendo progressivamente assoreados.
 
Lembramos que esse assoreamento afeta os Canais 1 a 3, desde o nosso primeiro artigo, em novembro de 2012.
 
 
 
Uma análise abrangente
 
(Clique em qualquer imagem para ver em tamanho original. Use Esc para retornar)
 
Praias de Santos – Comparação 1971 x 2024
 
Ao longo de décadas, as intervenções humanas interferiram com a dinâmica natural das marés na Baía de Santos.
 
Em especial a implantação do enrocamento / quebra-mar do Emissário Submarino e o aprofundamento do canal do Estuário do Porto, este último causando aumento de velocidade dos fluxos de maré-enchente e maré-vazante nesse canal.
 
Esta imagem de 1971, portanto anterior a tais intervenções, mostra como era a Praia de Santos, quando estava sujeita apenas à dinâmica natural das marés.
 
 Imagem publicada no site Memória Santista
 
 
Numa simples comparação com a foto anterior, esta imagem de fevereiro de 2024 (tomada aproximadamente a partir do mesmo ponto, ou seja, Ponta da Praia em primeiro plano) evidencia de forma inquestionável os efeitos das citadas intervenções humanas.
 
A linha tracejada vermelha mostra aproximadamente a faixa de praia perdida.
Imagem obtida com o Google Earth.
Gráficos ©2024 3athlonnaveia.com.br
 
 
Efeitos das intervenções humanas na dinâmica natural da Baía de Santos
 
Vamos lá, novamente...
Olhando do oceano para a praia, como já ilustramos várias vezes...
 
Na maré-enchente
 
·    A maré "chega" praticamente "de frente" para a Praia de Santos, desde a Ponta da Praia até a Praia do Itararé.
 
·    Para a direita, a água flui pelo canal do estuário, indo "encher" o Estuário do Porto.
 
·    Para a esquerda, a água flui para a Baía de São Vicente (Praia do Gonzaguinha) e flui também (através do estreito em frente ao Morro dos Barbosas, onde está a Ponte Pênsil) para "encher" o Mar Pequeno, que contorna a nossa Ilha pela esquerda.
 
Imagem obtida com o Google Earth.
Gráficos ©2024 3athlonnaveia.com.br
 
 
·    Sem o quebra-mar do Emissário Submarino
 
As ondas chegando à Praia do José Menino e à Praia do Itararé "se dividiam" ao encontrar a Ilha de Urubuqueçaba e se espraiavam após passar pela ilha, atingindo as areias de forma uniforme para a esquerda e para a direita.
 
Imagem obtida com o Google Earth.
Edição & Gráficos ©2024 3athlonnaveia.com.br
 
 
·    Com o quebra-mar
 
O espraiamento das ondas para a direita foi alterado e prejudicado, o que fica evidente pelo maior assoreamento (setas vermelhas) à esquerda do quebra-mar (olhando do mar para a praia).
 
Imagem obtida com o Google Earth.
Edição & Gráficos ©2024 3athlonnaveia.com.br
 
 
Na maré-vazante

Imagem obtida com o Google Earth.
Edição & Gráficos ©2024 3athlonnaveia.com.br
 
·    Pela direita, a água retorna pelo canal do Estuário do Porto, "varrendo" tangencialmente a praia, com velocidade decrescente desde a Ponta da Praia até o extremo esquerdo da baía.
 
·    Sem o quebra-mar do Emissário Submarino, essa varredura chegava, embora atenuada, até a Praia do Itararé.
 
Imagem obtida com o Google Earth.
Edição & Gráficos ©2024 3athlonnaveia.com.br
 
 
·    Com o quebra-mar, a varredura para a esquerda é estancada no próprio quebra-mar e, em seguida, na Ilha Urubuqueçaba, cuja conexão com a Praia do José Menino tornou-se também bastante assoreada, devido a uma espécie de gargalo (v. círculo vermelho) formado entre a extremidade Sul do quebra-mar e a face proximal dessa ilha.
 
Mais uma evidência desse efeito é a grande diferença de assoreamento à esquerda e à direita do quebra-mar (v. setas vermelhas).
 
Imagem obtida com o Google Earth.
Edição & Gráficos ©2024 3athlonnaveia.com.br
 
·    Pela esquerda, a água retorna do Mar Pequeno e da Baía de São Vicente, passando ao lado esquerdo da Ilha Porchat e rumando para o centro da Baía de Santos.
 
·    Portanto, como a corrente proveniente da Baía de São Vicente passa ao lado da Ilha Porchat (longe das praias de Santos), concluímos que somente a corrente procedente da direita é capaz de "varrer" tangencialmente as praias de Santos.
 
·    Pelos dois extremos opostos da Baía de Santos, essas duas correntes confluem para a sua região central, rumo ao mar aberto.
 
 
Dinâmica natural da Baía de Santos, antes das intervenções humanas
 
·    Na maré-enchente, as ondas quebravam nas praias de um extremo ao outro, de forma praticamente uniforme, e simultaneamente os fluxos de água se bifurcavam para contornar a Ilha de Santos e "encher" o Canal do Estuário e o Mar Pequeno.
 
·    Na maré-vazante,  as ondas "lambiam" as praias de um extremo ao outro, de forma praticamente uniforme, e simultaneamente os fluxos de água retornavam pela direita e pela esquerda, voltando a se unir na região central da baía e rumando para mar aberto.
 
·    O acúmulo, a distribuição e a retirada de areia ocorriam naturalmente, de maneira constante, uniforme e estabilizada, em toda a Praia de Santos.
 
·    Simples assim!
 
 
Como completar a solução?
 
Não saberíamos o que acrescentar a tudo o que já escrevemos e descrevemos em nossos artigos.
 
Podemos apenas reprisar as nossas sugestões anteriores que, caso sejam consideradas pelas partes interessadas, evidentemente precisariam ser estudadas, equacionadas, projetadas e executadas por oceanógrafos, engenheiros, arquitetos, paisagistas, financistas, economistas etc.
 
Ponta da Praia
 
·    Mais bags? Maiores do que os atuais?
 
·    Um (ou mais) quebra-mar(es) pequeno(s) ou um pouco maior(es), localizado(s) na região indicada em nosso 4º artigo?
 
·    Deixar como está, para ver como é que fica?
 
Assoreamento dos Canais 1 a 3
 
·    Criar uma ou mais passagens transversais (dutos? galerias?) no quebra-mar do Emissário Submarino, para que as águas possam voltar a fluir e refluir entre as praias de Santos e a Praia do Itararé?
 
·    Qual o posicionamento? Em quais níveis? Quais as dimensões?
 
·    Sistema de segurança (gradeamento...) para que não se torne um sugador de pessoas e animais?
 
·    Sistema de limpeza automática, para manter tais passagens desimpedidas?
 
·    Deixar como está, para ver como é que fica?
 
 
Um olhar humilde
 
A Natureza reage persistentemente às intervenções humanas, como um organismo vivo que procura se restabelecer das "lesões".
 
Será que o nosso conhecimento e a nossa capacidade de realização nos permitem continuar causando alterações e depois tentando remediá-las para que não se tornem lesões maiores?
 
Para colocar em perspectiva a nossa pequenez diante da Natureza e das suas forças, preparamos esta sequência de imagens do Google Earth, mais expressivas do que quaisquer palavras.
 
Por favor, clique na primeira imagem à esquerda, para ver a sequência em tamanho original.
 
 


 
 
 
Nada mais a dizer, por enquanto...
 
3AV
Marco Cyrino
 
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