sábado, 30 de outubro de 2021

Posicionamento nas provas de contra-relógio, no ciclismo


Silvio Marques, via Publique!

O que vemos atualmente nas provas de ciclismo e Triathlon são profissionais atacando a parte dianteira da bicicleta, em um posicionamento extremamente agressivo.
Tendência ou não, todos com a extensão quase completa do joelho na fase descendente do ciclo da pedalada com a regulagem da altura do banco limitada pela neutralidade entre a dorsiflexão e a flexão plantar dos pés na fase máxima descendente dos pedais.

Avançam o banco em sua máxima possibilidade, alcançando angulações acima dos 80 graus em relação ao eixo do pedal, o que possibilita que, quando em sua extensão máxima de joelho ajustada, a outra perna em sua máxima flexão de joelho ajustada coloca o dorso do pé atrás da linha máxima posterior do quadril, aumentando em eficiência a produção de potência no último quarto descendente da pedalada, direcionando o eixo do ciclo da pedalada não apenas para a frente mas angulando-o também para baixo, diminuindo o arrasto aerodinâmico.

A diminuição da flexão do joelho na extensão máxima do pedal na fase descendente proporciona menor utilização de carga sobre a musculatura dos glúteos, preservando-a em grande parte para a corrida.
O segredo está em equilibrar a diminuição da área de contato da parte traseira da bike com o solo no início do ciclo ascendente da pedalada, com a pressão máxima na frente da mesma na fase final descendente, gerando deslocamento máximo com a potência utilizada, principalmente sobre o centro da bike.

Aos Triathletas é necessário e fundamental considerarem a neutralidade da posição do pé sobre os pedais na máxima fase descendente, vez que aumentar a altura do banco além dessa neutralidade irá gerar flexão ou hiperflexão plantar, que irá gerar contração isométrica da musculatura de panturrilhas, principalmente dos gastrocnêmios em sua cabeça medial, durante todos os ciclos de pedalada. Esse posicionamento, potencializado em horas em cima da bicicleta em provas de longa distância, poderá interferir na qualidade e desempenho da corrida posteriormente, já que são músculos de grande importância usados na corrida. 

Aqueles que têm a possibilidade de treinar adequadamente para uma prova de longa distância devem privilegiar SIM as regulagens na bike com uma abordagem agressiva no período final de treinamentos longos.

Deve-se treinar o fortalecimento e estabilização central (Core), que envolve a musculatura abdominal na parte anterior e a musculatura estabilizadora de coluna e glúteos na parte posterior desse segmento, durante todo o período de preparação para provas de longas distâncias.
Estudos apontam que as lombalgias afetam até 80% da população mundial e é preciso preservar as estruturas envolvidas em todo o esforço da pedalada.

Regulagem com base no conforto apenas para quem não consegue treinar adequadamente os longos braços de cada modalidade durante a fase de preparação.

Hoje em dia é possível ajustar a sua bicicleta adequadamente através de programas e profissionais especializados para se maximizar a eficiência da pedalada e/ou conforto/performance.

E lembre-se.
Com o advento e “moda” das otimizações de performance através de medidores de potência, é muito comum os profissionais cometerem equívocos ao considerarem os padrões médios limiares de produção de potência (FTP) em protocolos de uma hora para ajustes em fases finais de treinamentos.

Considere com o seu treinador fazer os ajustes iniciais através dos protocolos padrões e ir mudando sua abordagem de pedalada após a evolução da performance durante o período dos seus treinos para alguma competição.

Grande abraço e até a próxima !
Silvio Marques

 

 
Agradecimentos ao Silvão, meu Treinador, por esta contribuição.
 
3AV
Marco Cyrino

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3 comentários:

  1. Olá Marco, Silvio;

    gostaria de deixar aqui alguns comentários a respeito. Trata-se de pontos de vista meus, que registro aqui para acrescentar ao tópico.

    Acho em primeiro lugar importante ressaltar que os ajustes recomendados para triatletas são a princípio diferentes daqueles feitos para ciclistas uma vez que a UCI impõe regras que limitam esses ajustes em provas de contra-relógio, enquanto que no triatlon, espec. distâncias 70.3 e IM, basicamente vale tudo.

    Ainda com relação a essas duas modalidades, importante diferenciar os ajustes feitos para eventos curtos, médios e longos. Um mesmo atleta, em uma mesma bike, deveria, ou ao menos poderia, regular essa bike de formas diferentes para distancias (e por consequencia instensidades) diferentes. Eu, ao menos, proporia um ajuste bem diferente para um TT de 15km e para um 70.3.

    Partindo do principio que por "Agressivo" entende-se uma diferenca significativa de altura entre selim e ponto de contato dos cotovelos (drop), acho que essa diferenca hoje é bem menos significativa que a 10 anos atrás, quando as possibilidades de ajuste do cockpit eram bem menores. Ou seja, hoje, uma bike com mesmas medidas de stack e reach de outra fabricada no início dos anos 2000 certamente tem possibilidades de ajuste de stack, por meio do uso de espaçadores, muito maior - permitindo um posicionamento menos agressivo do ponto de vista aerodinâmico, porém mais sensato sob o olhar de produção de potência. E isso é especialmente relevante para provas da UCI, que limitam o recuo do selim a 5cm em relação ao centro do movimento central, porque permite aos ciclistas trabalhar de forma intensa sem prejudicar ou exigir demasiadamente a mobilidade do quadril.

    De forma geral,e sempre respeitando a natureza de cada atleta, prefiro, utilizar a regulagem do selim tendendo para os angulos maiores de flexâo do joelho (limitando em aprox. 42 graus). Esse ajuste, aliado, se necessário, ao reposicionamento dos tacos mais para o centro e para dentro da sapatilha, e a um encurtamento do tamanho da pedivela, tem, na minha experiência,trazido bons resultados.

    De forma inversa, a utlização da altura máxima possível do selim, com consequente aumento do drop (imaginando que sejam mantidos stack to pad e tamanho da pedivela), implica em um potencial compromentimento de estabilidade do quadril - o que, por sua vez, gera uma série de outros desequilíbrios e até desconfortos.

    Acredito que uma boa referëncia visual para altura de selim ideal seja Fluidez de Movimento. Quando o ciclo de pedalada ocorre de forma fluida, sem interrupções ou (des)acelerações abruptas, em geral a altura está ok.

    Por fim, utilizar como referência o ajuste feito por profissionais ou amadores de elite tem, em princípio, dois problemas associados: 1) nem sempre os profissionais ajustam suas bike com conhecimento de causa e 2)o profissional ou atleta de elite tem uma quantidade de "horas de selim" que permite a manutenção de posições totalmente inviáveis para quem passa 8 horas por dia sentado em uma cadeira de escritório.

    Enfim, fica aí minha opinião. Abraço aos dois e obrigado por abordar o assunto.


    Max

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    1. Grande Max. Saudades de tu. Obrigado aos 2 pelas contribuições. Forte abraço.

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  2. Sensacional. Sempre aprendendo. Tentei apenas utilizar uma linguagem um tanto menos específica para facilitar o entendimento. Obrigado pela contribuição, Max. Forte abraço do eterno aprendiz aqui !! Saudações

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