Quem me acompanha há um tempo sabe que não sou de
reclamar de meus perrengues pré-prova.
Hahahahahaha!!!
Pega na mentira!
Confesso, sou o maior reclamão que vocês já conheceram.
E, quanto mais o tempo passa, mais reclamão fico.
Mas, neste ano, depois do meu aniversário e do meu casamento,
nunca vi um "inferno astral" tão longo e variado.
Teve de tudo.
Só não teve ciclo de treinos.
Teve gripe?
Teveeeeeee!!!
Gripe mesmo.
Não aquilo que a gente chama
de resfriado, mas aquela que te deixa de cama, dá febre, tosse, tremedeira,
suador e parece que não vai passar nunca mais.
Teve conseqüências?
Teveeeeeee!!!
Tipo você ir ao médico (porque
a tosse não passava) e ele te enfiar Decadron na veia e mais um monte de corticosteróides,
porque o que sobrou era alergia.
Isso faltando 30 dias para a
prova.
Teve mais
alguma coisa?
Teveeeeeee!!!
Um "desligamento"
do meu pé direito, que pensei ter sido causado por um AVC.
O pé não respondia pra cima,
mas, pra baixo sim... Descartei o AVC.
Segundo meu fisioterapeuta e
meu quiropraxista, o bagulho iria demorar um tantão pra recuperar.
Provavelmente, algum
pinçamento simplesmente resolveu deixar meu pé direito fora da prova.
Ah, vai correr com um pé só!
Coitado do Atef, que se virou
nos trinta pra me tratar duas vezes numa única semana.
Coitado do Silvão, que se virou
nos trinta pra me deixar o mínimo em forma.
Viagem tensa
Viajamos com antecedência,
por força de compromissos pessoais, porque normalmente, na volta, costumo visitar
meu irmão, em Jaraguá do Sul.
Desta vez, fizemos a visita
na ida.
A viagem teve
algum problema?
Teveeeeeee!!!
Faltava mais nada.
Neuzita pegou um resfriado
e, por afinidade, peguei também.
Ou era apenas alergia... vai
saber.
Só sei que fiquei fungando por
mais de uma semana.
Teve muita
chuva?
Teveeeeeee!!!
Na sexta-feira, dia da nossa
viagem de Jaraguá para Floripa, houve um dilúvio.
Levamos quase 4 horas para
fazer um percurso de pouco mais de 200 km.
Daquelas chuvas que, mesmo
com o limpador de pára-brisas no máximo, não se enxerga mais que 2 metros à
frente.
Mas, os "grandões"
- caminhões, ônibus, etc. - vêm nos empurrando.
Vários colchões de água na
pista.
Do nada, passava um "grandão"
na outra pista e te dava um banho de 3 segundos de cegueira.
Tenso, viu?
Penso ter visto a Arca de
Noé passando na outra pista, mas pode ter sido miragem, por esgotamento
nervoso. rsrsrs.
Depois, soube que esse
dilúvio foi para o Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
Os aeroportos ficaram
fechados.
Parece que muitos atletas
inscritos não puderam ir.
Parece também que até mesmo
algumas empresas não puderam participar da feira.
Chegamos a Floripa na
sexta-feira e já fomos direto pegar o kit de prova.
Fiquei impressionado com o
esvaziamento da prova.
Na Expo, havia pouquíssimas
empresas mostrando seus produtos.
A quantidade de atletas para
participarem do Long também estava bem reduzida.
Vamos à prova
Com tudo o que ocorreu,
tomei uma excelente decisão...
Tenho o maior orgulho de,
independentemente de resultados, nunca ter abandonado uma prova.
E olha que já fiz muita
merda, no bom sentido.
Tipo, fazer meu primeiro
Long sem estar devidamente preparado, sem saber como me hidratar e alimentar em
provas longas, terminar me arrastando, em penúltimo lugar (porque houve alguém
como eu) e pagar um belo preço, por semanas, para me recuperar.
Não recomendo a ninguém,
mas, não é que terminei e me senti orgulhoso?
A decisão foi bastante
discutida com a Neuza e minha família.
Principalmente meu irmão
Alfredo, editor deste Blog, meu outro irmão José Roberto, minha cunhada Lia,
minha irmã Fátima e, claro que muito, com a Neuzita.
Se houvesse uma prova com
motivos para eu não completar, seria esta mesma, até porque, tudo tem uma
primeira vez.
Logo, desencanei.
Até meu sobrinho e afilhado
Júnior me aconselhou a isso.
Prometi a todos (e cumpri) que
encararia essa prova como uma bela oportunidade de fazer um "treinão de
luxo", mesmo que não o completasse.
Nadar em Jurerê, com a
estrutura de segurança da prova.
Depois, caso me sentisse
bem, fazer um enorme "passeio" de bike por 90 km, com algumas boas
subidas.
Por fim, se ainda tivesse
forças, percorrer os 21 km de corrida, que, provavelmente, seria um misto de anda,
trota, se hidrata, anda mais um pouco, tenta trotar, e vai indo que uma hora
acaba!
No sábado à noite, eu já
deitado, meu irmão Alfredo ligou e avisou a Neuza sobre a previsão do tempo:
Mínima de 14ºC e ventos com
rajadas de Sul.
Acordamos às 4:00h da
matina.
Mesmo sem ter dormido muito
e bem, impressionantemente eu estava com um pouco de disposição.
Neuza comentou muitas vezes
comigo, durante o período anterior à prova, que eu parecia sem estímulo.
Cheguei à transição, arrumei
minhas coisas e a temperatura estava ótima para o horário: 21ºC.
Até então, sem vento.
Deu 6:00h da manhã e fui
fazer minhas preces.
Como sempre, pedindo
proteção a mim e a todos.
Natação
Minha largada foi exatamente
às 6:30h da manhã.
Entrei no mar como me
programei, pouco ligando para os demais atletas.
Deixei todos entrarem, ambientei-me
à temperatura da água (não gelada, mas fria) e comecei a nadar em ritmo de
cruzeiro.
Aos poucos, fui aumentando o
ritmo e passando alguns atletas.
No final saí do mar bem
contente com a performance, extremamente calma.
Ciclismo
Então, vamos passear de bike
por 90 km!
Começou a ventar... e forte!
Ainda bem que acreditei na
previsão.
Se houvesse feito a prova
com a roda traseira fechada e a dianteira "four stroke", provavelmente estaria aterrissando hoje aqui em
Santos.
Pedalava contra o vento a
uns 18, 19, 20 km/h... e a favor a uns 40, 42, 44 km/h.
E não fiz força.
Sabia que se fizesse iria
quebrar (a não ser nas subidas, que não tem jeito).
Milagrosamente, entreguei a
bike com certa vontade de correr um pouco.
Tomei quase uma caramanhola
inteira de água, antes de sair pra correr. Detalhe, me alimentei e hidratei o
máximo possível durante o pedal.
Corrida
Daí pra frente, minha
memória pode falhar. kkk
Acho que foi no final da
primeira, de 3 voltas da corrida, que me dei conta de que estava em 5º de cinco
na categoria.
Só que, num retorno, vi um
atleta pouco à minha frente, com numeral próximo do meu.
Estava me sentindo bem, a
ponto de só andar nos postos de hidratação, para poder tomar sem me engasgar um
gel, cápsula de sal, etc., além de jogar água gelada na cabeça e no corpo.
Passei esse atleta, mas nem
tinha certeza de que era da minha categoria.
Nas outras voltas, nem
procurava ver quem era ou não.
Então, o cara que ganhou
minha categoria cruzou comigo e disse:
- O fulano tá só um
pouquinho na tua frente!
Continuei minha corrida
tentando entender.
Que fulano? Que
categoria? kkk
Iniciando a última volta,
passei um atleta que, esse sim, tinha um numeral que era o meu sequencial.
Cruzei com a Neuza e disse
pra ela:
- Acho que tô delirando.
Pelas minhas contas e se eu
estiver certo, posso estar em 3º lugar.
Ainda me sentindo bem, acelerei
mais um pouco no final (não sem antes travar amizade com uma palmeira, na qual
fiz alongamento, a cada volta).
A cada posto de hidratação,
agradecia e zoava os staffs, perguntando
se tinha uma breja, uma caipirinha que fosse. kkk
Meu pé bobo ficou esperto.
Cheguei e a Neuzita, mais
uma vez, fez um vídeo chegando junto.
Resultado
Fui fazer massagem, comer o
que entrava etc. e tal.
Fui retirar minha bike e
surge a Neuzita, botando pilha, dizendo pra correr porque já estavam fazendo a
premiação e eu havia pegado um lugar no pódio!
Não me lembro de ter saído tão
rápido de uma transição, com meus materiais.
Se fosse ainda falar detalhadamente sobre tudo o que
passei, vivi, presenciei, etc., o post viraria um livro.
Só termino dizendo: Fé e determinação.
Nunca imaginaria ter feito uma prova como essa
(para quem não sabe, ganhei essa prova em 2017), depois de ter passado
tudo que passei.
Congratulations for all !
3AV
Marco Cyrino