terça-feira, 3 de abril de 2018

Treinos, acidentes, vida e morte no Triathlon


Esta postagem, juro, gostaria de nunca ter motivos para fazê-la.

É praticamente uma compilação de várias postagens que fiz em redes sociais, muitas delas particularmente, outras em grupos restritos, de praticantes do Triathlon e de amigos desse grande cara que se foi recentemente, o Chiquinho.

Claro que o motivo principal deste é o acidente que nos privou da convivência em vida dele.

Poderia me estender por vários parágrafos, escrevendo sobre as qualidades dele.
Vou me abster disso, até porque penso que falaram já tudo de bem a respeito dele.

Só quero que este post sirva para que todos nós, praticantes de esportes, mas principalmente de Triathlon, possamos fazer algumas reflexões.

Eu nem era tão próximo dele. Éramos, digamos, colegas do esporte.
Mas, o pouco que nos encontrávamos, o relacionamento foi intenso, como na última vez em que o vi.
Na transição, antes da prova do Internacional de Santos, como sempre, nos desejamos boa prova e nos demos um abraço como se fosse o último.
E não é que foi?
Phoda elevada a 10ª potência!!!

No dia do seu acidente, voltei pra casa, depois de um treino de corrida, já à tarde, e entrei no Facebook para passar o feedback do treino para o Silvão, meu treinador.
Dei de cara com uma postagem do Denis Potenza, relatando o ocorrido.

Porrada na cara!

Passei isso no "Messenger" do Silvão e nem consegui passar o feedback do treino.
Fiquei arrasado por aqui, o resto do dia.

Pouco depois, o Silvão me procurou para saber a respeito.
Não conseguíamos pronunciar mais do que 2 ou 3 palavras sem conter o choro.

Muito triste.

Fiz um compartilhamento a respeito, no grupo Ironman Brasil, no Facebook.
Entre vários comentários, o Marlus, administrador do grupo, se solidarizou com o ocorrido e postou um link de outro acidente acontecido, desta vez em Uberlândia, com um ciclista profissional.
Até onde acompanhei, ele estava em estado grave e internado.

Não acompanhei mais e desejo que ele já tenha se recuperado ou esteja se recuperando.


O que uma coisa tem a ver com a outra...

Fiquei, evidentemente comovido com o link do Marlus.
Mas, nem um centésimo de como fiquei com o do Chiquinho.
Humano que sou, a gente prioriza nossos sentimentos para os mais próximos.
Parece que o acidente de Uberlândia está longe o suficiente para que não tenhamos nada a ver com isso.
Engano.

Acidentes acontecem e acontecerão. A mais pura e cruel das verdades.

Pelo que eu soube, e não sei se é verdade, o acidente do Chiquinho foi exatamente como o meu primeiro, há uns 10 anos ou mais.
Eu dei a sorte de "avuar" pro acostamento.
Ele deu o azar (ou sorte, vai saber, dependendo da crença de cada um) de "avuar" pra pista... e foi atropelado.

O motorista, desta vez pelo menos, me parece não ter tido culpa.

Posso até falar que nós, que pedalamos pelas estradas, e dirigimos também, podemos ser mais precavidos ao nos aproximar de alguém (ou muitos) pedalando pelo acostamento, já prevendo um eventual acidente. De minha parte, tiro o pé, me afasto, passo o mais precavido possível.

Coitado do motorista, se não teve culpa, vai levar esse peso para o resto da vida.

Já perdi amigo, aí amigo mesmo, nadando, o Edmilson Scrassulo. E pedalando, o Clarindo. E até correndo... por enfarto.

Cada evento desses me deixa muito, mas muito pra baixo.
Só que, a vida segue.

Já pensei, e até falei várias vezes, que penso em abandonar o Triathlon.
A cada acidente de pedal nas estradas, fatal ou não, esse pensamento fica recorrente em minha cabeça.

Normalmente preciso de um certo tempo para ir digerindo, pensando a respeito, e, nesse período, não me verão pedalando nas estradas.
Cagão?
Com extremo orgulho, sou sim.
Replicando Leandro Karnal: A gente envelhece e sai de guarda-chuvas na rua, mesmo debaixo de sol.

Neste final de semana, tinha um treino meio longão de bike e, em acordo com o Silvão, o fiz no rolo.

Mas, nada como o tempo, a gente vai novamente voltando ao normal.
Que normal é esse? Sei lá.

O normal é a gente saber que todos nós vamos passar por aqui e cada um no seu tempo.

Portanto, não adianta eu ficar enclausurado, "sentado no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar".
Toca Raul... kkkkk

É encarar a vida como ela é, tomando todos os cuidados possíveis, sem, contudo, criticar quem não os toma.

Se conselho fosse realmente bom, não se dava... se vendia!
Mas me arrisco a dar.

Chiquinho, Edmilson, Clarindo, atletas que já se foram: PRESENTE !


3AV
Marco Cyrino



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