quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Porque eu faço Ironman?


Essa pergunta já me foi feitas inúmeras vezes.
E por todos os tipos de pessoas: familiares, amigos, conhecidos, desconhecidos, esportistas (dentre eles Triathletas e não-Triathletas), gente totalmente sem noção e gente com muita noção.

Nunca consegui ou nunca tive a oportunidade de explicar pormenorizadamente o "porquê".
Na maioria das vezes, por falta de tempo para colocar "os motivos" e não apenas "o motivo".
Outras tantas, a maioria, por falta de interesse do interlocutor em ouvir tudo que teria para falar.
Digo isto porque dificilmente temos apenas um único motivo para fazer Ironman. Exceto aqueles que o fazem apenas uma única vez.

Esses, sem contestá-los, provavelmente têm um único motivo. E não vou me estender a respeito disso, porque o tema deste post não é "os motivos dos outros" e sim "os meus motivos".
Também não sou contra, porque não tomo conta da vida de ninguém.


Vamos então aos meus...

Movimento...
- Tenho uma necessidade absurda de ficar me movimentando. 
Nenhuma patologia, não. É necessidade de praticar algum esporte.
O Triathlon veio a calhar, em um período da minha vida que, por força de lesão no tendão de Aquiles, não poderia ou não deveria mais jogar futebol.
A corrida, seja apenas a corrida de rua, seja Biathlon, Triathlon etc., oferece infinitamente menos riscos a esse problema do que jogar bola.
Futebol impõe uma série de arranques, giros e outros movimentos que aumentam muito a possibilidade de lesões, principalmente para quem já as tem.
Daí que, ao começar a participar primeiramente de Biathlons e depois aderir ao Triathlon, deparei com modalidades que, além de me manterem em atividade o tempo todo, visto a necessidade de treinos para concluir uma prova, foram aos poucos me disciplinando.


Disciplina...
- Confesso que nunca fui muito disciplinado naquilo que não era obrigação.
Trabalho? Disciplinadíssimo. Estudo? Disciplinado. Esportes? Pra que disciplina se eu me achava? Surf e futebol (este último, exceto quando era muito moleque e meu tio me levou para treinar no "Dente de Leite" do SFC) nunca me exigiram muita disciplina. Surfava, jogava e pronto.

- O Triathlon, mesmo que o Short, começou a me ensinar um pouco de disciplina no esporte.
Fazendo parênteses: No surf e no futebol eu era indisciplinado disciplinadamente. Dá pra entender? Acho que não. Vou dar apenas um exemplo de cada um.
No surf, depois de ficar "cagado" com um caldo que tinha tomado, perdido a prancha e saído do mar no sufoco, cheguei a ir para a praia com a prancha em dias totalmente flats (sem ondas), remar até uns 300m da praia e voltar nadando (com a cabeça fora d'água, modalidade que eu praticava então... rsrsrs), empurrando a prancha até onde dava pé, por umas 10 vezes. Isso é disciplina?

No futebol, quando o Seu Papa (técnico da Burrinha) disse que eu não podia jogar no meio de campo porque eu só olhava a bola e não o "jogo", passava dias chutando bola contra a parede do prédio, sem olhar para ela quando ela voltava. Cansei de furar. Ao final de não sei quanto tempo, a coisa ficou normal para mim.


Mudança para melhor...
- Quando o Triathlon entrou definitivamente em minha vida, influenciado que estava por alguns amigos como Edney Batista, Claudio Miller, Cleber Celino, Edmilson Scrassulo, entre outros, nunca me vi como um atleta, mas apenas como um desportista que estava adorando o que fazia.

- Aquilo começou a mudar minha vida para melhor. Não no sentido competitivo, embora isso faça parte de qualquer esporte.
Mas, principalmente no sentido de evolução.
Começou a aflorar aquilo que eu, mesmo sem entender já praticava. Tipo, deixar de dar uma puta chuveirada na cara de um surfista, numa rasgada, para não colocá-lo em risco.
Ou, ao cometer um pênalti segurando o calção do adversário e o juiz marcar, reconhecer e afastar do árbitro os meus companheiros que queriam que não marcasse o pênalti. Essa foi fácil. Estava 4x1 pra gente.... kkkkk
Mas, passei a ver o esporte pelo lado não tão competitivo, mas solidário. Guardem esta frase.


Amizades...
- Quando fui evoluindo no Triathlon, bem aos poucos e não pulando etapas, fui acrescentando tantas amizades sinceras (espero eu), que descobri o verdadeiro significado do esporte.

- Esse significado, pelo menos para mim, diz respeito também à competitividade. Mas muito mais à evolução pessoal, à superação de nossos limites, etc.

- Até determinadas distancias o Triathlon é pura competição. A partir do Olímpico e para frente, temos que aprender os demais significados.


EVOLUÇÃO PESSOAL
- Alguém já parou para pensar sobre como evoluímos em muitos, para não dizer todos, aspectos fazendo Triathlon?
Pode ser, e penso que acontece, que muitos atletas façam uma involução, deixando seus egos ultrapassarem suas convicções.


GRANDE APRENDIZADO
- Os treinos para Triathlons nos obrigam a ter dedicação, disciplina, tolerância, persistência, força de vontade, perseverança.


SUPERAÇÃO DE LIMITAÇÕES
- Não sou um bom nadador. Não sou um bom ciclista. Não sou um bom corredor. Na somatória das modalidades não sou o pior em nenhuma também. Logo, para que pudesse evoluir, por pouco que fosse, tive que me dedicar bastante para superar minhas limitações nas 3 modalidades. Melhorando aos poucos e com muita insistência, além de procurar bons profissionais para minha orientação.


O QUE LEVAMOS PARA NOSSA VIDA
- Levamos tudo que pode ser levado. Alguns podem levar para suas vidas a parte ruim. Tipo "abandonar" a família, se dopar, deixar a competitividade superar a solidariedade.
No meu caso, levo o aprendizado de gostar do que faço, de dedicação, de persistência, de perseverança, de desafio pessoal e até de competitividade com o próximo, dentro das regras e daquilo que meu bom senso me indica.


SOLIDARIEDADE
- É nas provas mais longas que vemos e aprendemos o sentido de solidariedade, em sua maior importância.
Em meu primeiro Long Distance, há nem sei quantos anos (bem mais de 15, com certeza) em Pirassununga, ao sair para correr, sem me agüentar nas pernas por não me alimentar nem me hidratar adequadamente, um "tiozinho" argentino (ou chileno, peruano, paraguaio... infelizmente não me recordo), que estava em muito melhores condições que eu, fez praticamente os primeiros 10 km ao meu lado falando coisas como...

- "Arriba.. arriba... come este plátano... toma este isotônico... depois de alguns anos descobri que o plátano era a banana que ele não comeu e me deu pra comer...

- Depois de não sei quantos meios Irons completados, procuro sempre praticar essa solidariedade com a qual fui contemplado.


IRONMAN NÃO É MINHA DISTÂNCIA
- Definitivamente o Ironman Full não é minha distância preferida, tampouco a mais competitiva. Porém, é a que mais agrega valores em minha vida.
Depois de 7 completados, posso falar com toda a certeza que o tempo dedicado à prova, incluso logicamente o período de treinos, só nos torna pessoas melhores.
Desde que tenhamos o discernimento necessário para tirar as boas lições desse tempo.


É POR ISSO QUE FAÇO IRONMAN
Por último, o Ironman mostra pra você quem está totalmente ao seu lado.

No meu caso, tenho tudo e todos a meu lado, minha família (Alfredo, Jussara, Zé, Lindete, Junior, Fátima), Silvão, pai e mãe de sangue no céu, pai e mãe espirituais na terra, irmãos espirituais, demais familiares meus e da Neuza e ela... Neuzita.

Enfim, faço o Ironman por insistência, pelo desafio que ele representa e pelas coisas que me ensina, as quais consigo, de certa forma, aplicar em minha vida pessoal.


ALOHA !!!

3AV
Marco Cyrino

8 comentários:

  1. Parabéns Marcão!!! Fico feliz em ler seus textos e perceber que aquele ogro que corria descalço e dava um shot ou um trago na transição virou este cara disciplinado e apaixonado pelo esporte...
    Grande abraço
    Stephan

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    1. Grande Stephan...um dos meus incentivadores e, melhor ainda, dando várias dicas do que encontraria por lá.
      Ah...e o Ogro não morreu. Tá apenas hibernando...ainda dou minhas corridas descalço (na areia), meus tragos e shots.

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  2. Boa Marcão, feliz por ter conhecido um cara como você em "vida"
    Abraço

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  3. Na torcida também evoluímos e aprendemos à ser solidários, compartilhar e ainda é muito divertido. Tem pessoas que acham que sou louca ou algo semelhante, mas também tem pessoas iguais à mim que ficam nas competições do começo ao fim.

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  4. Sempre uma leitura gostosa...uma cronica que me faz aprender.Meu inesquecível Anjo da Guarda! Parabens !

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    1. Obrigado, Andrea. A intenção do Blog (e minha, por consequência) é essa. Feliz por gostar. Abração.

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