Ir além...
Em todas as áreas de atividade humana, há
pessoas que fazem apenas o "mínimo necessário", contentam-se em
cumprir aquilo que seria "o exigível".
E existem aquelas que não se contentam com
tão pouco.
Em tudo o que fazem, perseguem "fazer o
melhor", inclusive naquelas coisas que dizem respeito somente a elas
mesmas, coisas que "não aparecem para quem as observa".
Neste exemplo simples, note-se que o
conceito não se restringe a aspectos somente materiais.
Pensemos em duas
cafeterias.
Uma delas nos
ofereceria um café expresso bem feito, e apenas isto.
A outra nos ofereceria
um café expresso bem feito, porém acompanhado de um copinho de água e uma bala
de menta, ou um tabletinho de chocolate, ou um cookie.
Não se trata
simplesmente de "entregar mais" aos clientes.
Trata-se de todo o caminho
percorrido até se chegar à conclusão de que entregar aqueles
"adicionais" juntamente com o café agregaria valor ao produto,
"seria melhor" para o cliente.
Trata-se de oferecer
aquilo que se gostaria de receber, e procurar realizar a entrega com a melhor
qualidade possível, o que inclui, não apenas "o que se entrega", mas
também "como se entrega" (disposição, atenção, cordialidade etc.).
Exemplificando
"Ir além" envolve preocupar-se não
somente com os resultados de um serviço, um produto, uma atitude, um modo de ser.
Envolve preocupar-se também com a
permanência desses resultados (quando cabível) e com o melhor aproveitamento
possível dos mesmos.
É o funcionário que,
ao sair de férias ou deixar a empresa, não somente põe o seu serviço em dia,
mas preocupa-se também em deixar instruções para que o seu substituto,
temporário ou definitivo, se saia o melhor possível.
É o estudante que
estuda criteriosamente a matéria, antes da prova. E depois reestuda os temas em
que errou.
É o médico que sempre
se desdobra para ter certeza de que o paciente compreendeu bem as suas
orientações, conversando inclusive com os parentes, quando necessário.
É o chefe que sempre reconhece
quando cada funcionário fez um bom trabalho e procura ajudá-los em seu
crescimento profissional.
É o jovem que auxilia
uma pessoa idosa a atravessar a rua e se preocupa em saber se ela precisa de
mais alguma ajuda.
É a empresa que luta
para ser a melhor em sua área, deseja saber realisticamente se os seus produtos
ou serviços atendem bem aos seus clientes... e aplica esse conhecimento ao
próprio aperfeiçoamento.
É o instrumentista
que estuda e pratica milhares de vezes a mesma obra, para sempre oferecer uma
execução perfeita.
É o escritor que
reformula as frases até estar certo de que foi claro e objetivo.
É o atleta que se
aplica centenas (ou milhares) de vezes aos mesmos treinos, buscando
aprimoramento, autodeterminação, superação de marcas pessoais.
É o treinador que procura
conhecer todas as características de cada um dos seus atletas e se esmera em
suas prescrições, para ajudá-los a obter o melhor de si mesmos.
É a pessoa que, mesmo
sem dispor de tempo ou outros recursos, consegue se dedicar constantemente a
algum trabalho voluntário.
Os exemplos são
infinitos...
Analisando
O "ir além"
decorre de certos traços individuais de personalidade, inatos ou adquiridos e desenvolvidos, que
terminam por imprimir características especiais aos atos e atitudes das pessoas,
às suas atividades particulares ou profissionais, aos grupos e às organizações
em que elas atuam.
Esses traços
funcionam como uma espécie de controle de qualidade interior, levando cada um a
analisar, em tempo real, aquilo que estiver realizando, quer se trate de algo
único e pessoal, para si mesmo, quer se trate de algo abrangente, que se
refletirá nas vidas de outros, individualmente ou coletivamente, num grupo,
numa organização etc.
Interiormente, a
pessoa sabe (ou sente) que está procurando "ir além" e, freqüentemente,
encara esse "diferencial" simplesmente como um modo de ser, talvez
somente uma maneira de estar sempre com a consciência tranqüila.
Exteriormente, nas
interações com as demais pessoas, esse modo de ser e agir poderá motivar equipes
ou grupos a também "irem além", ou poderá gerar resistências e
contrariedades, caso sejam maioria aquelas que "fazem apenas o mínimo o
necessário".
Os resultados
dependerão bastante da motivação, da perseverança e da diligência daquele que
pretende "ir além".
Alguém que "vai
além" tem o seu real valor reconhecido não somente quando
"chega", mas também quando deixa um grupo, uma equipe, uma
empresa etc.
Ou porque conseguiu
motivar os demais com seu modo de fazer as coisas, incentivando mais pessoas a
"irem além", ou porque não o conseguiu, caso em que um enorme vácuo
restará após a sua saída...
Excelência
Pessoas que "vão
além" perseguem um atributo que talvez possamos tratar por
"excelência", algo que aprimora e distingue positivamente tudo o que fazem.
Pode-se dizer que
tais pessoas estejam destinadas a atingir a excelência.
Aplicando
Este texto não pretende
exaurir o assunto e constitui uma simples reflexão sobre "ir além",
com o propósito de estimular as pessoas a fazer sempre mais e melhor, em
quaisquer atividades.
É possível ampliar a
abrangência destes conceitos e aplicá-los a todas
as nossas atividades cotidianas.
É possível mesmo
enxergar outras formas de "ir
além", as quais extrapolam estes
conceitos.
Importante que consigamos
fazer uma avaliação constante daquilo
que realizamos, procurando sempre "o que"
é possível aprimorar e "como" fazê-lo.
Não se trata de uma
prática fácil, demanda maior esforço em
quase tudo, mas acrescenta valor ao tempo
e à energia que despendemos realizando as coisas, algo que se traduz em
benefícios tanto para as pessoas que recebem aquilo que realizamos, quanto para
nós mesmos, no mínimo pela consciência de estarmos "indo além".
Alfredo Cyrino
Editor 3AV