Sempre procurei pautar minhas opiniões, decisões e ações em conhecimento dos fatos, bom senso e justiça, além de outros fatores.
O que, claramente, não significa que esteja certo em tudo o que penso, digo, ou faço.
Mas, me esforço...
Digo isto em primeiro lugar, apenas para registrar que, antes de externar algumas opiniões, venho me esforçando para enxergar todos os lados dos problemas que vou abordar, os quais culminam na questão da segurança, que parece estar deixando a todos nós paranóicos.
Não se fala em outra coisa e, infelizmente, não sem motivo.
Antes fosse apenas uma paranóia coletiva.
Os excelentes textos recentes do Max (http://maxkonabikes.blogspot.com.br/2014/01/de-cusp-em-cusp.html), do Bessa (http://tribessa.blogspot.com.br/2014/01/porque-nao-me-ufano.html), além das tiradas do Silvão no Facebook, são apenas alguns exemplos de manifestações de pessoas que conheço, convergindo todas para a preocupação com o estado atual da segurança.
Posso não concordar com todas as posições, e me permito isto.
Todos têm alguma razão em seus argumentos e posições.
- Ciclistas ou Triathletas (normalmente Triathletas) que treinam com equipamentos caríssimos, talvez desnecessariamente.
- Atletas contratando escolta armada para poder treinar.
- Policiais repelindo manifestações violentamente.
- Rede Globo divulgando preços dos equipamentos.
- Existem muitos outros exemplos...
É o poste...
Em minha humilde opinião
Responsabilizar (por menos que seja) um atleta por ter sido roubado, porque estava treinando com uma bike de 30 paus + rodas de carbono de 15 paus + roupitchas (como disse certo colunista) de 2 paus + capacete aero de 2 paus + sapatilha de carbono de 2 paus... equivale a responsabilizar a mulher que foi assediada (ou pior) porque estava de minissaia + blusa decotada + maquiagem.
É o poste...
Atletas que contratam (ou contratarão) escolta armada, para poder treinar, são considerados culpados pela violência e não oprimidos por ela.
É o poste...
Policiais repelindo manifestações violentamente?
Mesmo quando são eles os violentados pelos "caras-tapadas" que se infiltram em manifestações pacíficas, com o intuito de vandalizar, roubar, depredar?
Mesmo quando são eles primeiramente agredidos com pedradas, pauladas, coquetéis molotov?
É o poste...
Rede Globo apontada como culpada por divulgar os valores dos equipamentos de ciclismo?
Ué! Alguém não disse o valor ao repórter?
É mentira?
Ah! Os bandidos, conhecendo os valores, vão crescer os olhos nos equipamentos?
Então, temos que "fazer de mentirinha" que eles valem pouco.
Entendi...
É o poste...
Que poste?
Quando...
- os caras pedalando com equipamentos caros;
- os atletas procurando adotar alguma ação para se proteger;
- os policiais sendo acusados;
- as redes de televisão,
são considerados os responsáveis pelo que de mal acontece (apenas para citar estes exemplos), é porque realmente "É o poste!"
Na empresa em que trabalho, uma galerinha mais nova usava esta expressão, quando via algo muito errado.
Curioso que sou, perguntei o significado, óbvio:
É o poste mijando no cachorro.
Tudo errado.
Tudo invertido.
É o poste...
Para chegarmos à causa raiz de um problema, o questionamento mágico, que deve ser repetido inúmeras vezes, é:
"Por quê?"
Se fizermos tal questionamento para cada um dos exemplos citados, talvez mudemos de opinião.
Será que não percebemos
Que, não é de hoje, está-se ampliando uma crise de ausência de ações concretas e bem elaboradas para resolver o problema da violência?
Que essas ações não passam apenas pelas esferas de Polícia, Justiça e Segurança?
Que o buraco é mais embaixo, muito mais embaixo mesmo?
Eu diria: nos infernos.
Onde?
Atualmente ainda prevalece uma expectativa de impunidade por parte de criminosos, incluindo-se corruptos, estelionatários, assaltantes, motoristas (alcoolizados ou não) que assumem riscos quanto às vidas alheias, agressores (de mulheres, idosos, crianças, demais criaturas indefesas), vândalos e baderneiros, bandidos em geral.
Desnecessário citar casos notórios, expostos corajosa e freqüentemente pela mídia investigativa, reforçando a percepção de que a impunidade ainda prevalece.
O buraco mais embaixo situa-se em fatores fundamentais como:
· As leis brasileiras, muitas vezes jogando por terra o trabalho policial.
· A ignorância (entram aqui a educação e os valores familiares) elegendo e reelegendo aqueles que já deveriam ter reescrito decentemente as leis, para que sejam justas, sem brechas (muitas vezes premeditadas), eficazes. Pessoas eleitas precisam ter ciência de que serão monitoradas e cobradas quanto ao cumprimento dos compromissos eleitorais, cumprimento daquilo que nos é devido... e de que serão eleitoralmente expurgadas quando falharem.
· A "apatia" quase que geral, traduzida pela ausência de movimentos que reivindiquem de forma incisiva e eficaz, sem causar transtornos aos demais cidadãos, uma prestação efetiva do serviço segurança, o que (em conexão com os itens acima) passa pela Reforma do Código Penal, pela revisão da maioridade penal, pela reestruturação dos sistemas prisionais, pela melhoria real dos planos de carreiras policiais & associados, exigindo, portanto, a eleição de gente de qualidade e comprometida com "fazer já o que é certo e urgentemente necessário".
A resolução de tudo isto tem de ser prioridade.
E para ser prioridade tem de haver vontade política.
Recursos, tenho certeza de que não faltam...
- Não em um país que gasta bilhões de reais financiando estádios particulares (não importa se em forma de empréstimos, ou se haverá calote) que serão (maioria) sub-utilizados após a Copa do Mundo.
- Não em um País que não consegue solucionar, com os investimentos necessários, os gargalos de seus próprios portos, mas financia a construção de um porto moderníssimo em Cuba.
- Não em um País que... Ah! Deixa pra lá. Só sei que a falta de recursos não é o problema.
Sinto vergonha de dizer que estou com uma ponta de inveja da Venezuela.
Até mesmo lá, oposição e situação deram às mãos para um grande movimento de combate à violência, após o assassinato de uma ex-miss. Não antes de os movimentos sociais ameaçarem ir às ruas.
Uma coisa intrigante, no Brasil: há movimentos para defender toda sorte de direitos, de relevantes a nem tanto, mas sempre focados nos efeitos, não nas causas.
Sem tirar a importância desses movimentos, será que já não passou da hora de nos movimentarmos?
Finalizando
Como este é um Blog / Site de Triathlon / Esportes, decidi me ater aos tópicos que têm mais a ver com os atletas.
Mas, infelizmente estes humildes comentários e opiniões sobre segurança aplicam-se também aos demais serviços públicos fundamentais, dentre os quais se incluem: educação, saúde, saneamento básico, limpeza pública, abastecimento (eletricidade, água, gás etc.), transporte público, telecomunicações etc.
3AV
Marco Cyrino