Aliás, não faça porra
nenhuma.
Assim, você não corre o
risco de se machucar.
Mas, já que vai fazer,
faça bem feito.
Não faça besteira.
Das
cavernas aos super-tênis
Já
falei algumas vezes sobre meu passado de “atleta das cavernas”.
Corria
descalço, blá, blá, blá...
Agora
descobri, a duras penas, que faltou falar sobre algo decorrente da decisão de
ser um “atleta moderno”.
Então
lá vai:
Depois
de ser convencido a correr, não calçado, mas muito bem calçado, joguei fora
(doei) o par de tênis que usava eventualmente, e fui procurar um calçado
adequado.
O tipo de pisada
Em
uma loja especializada em tênis, me perguntaram qual era a minha pisada.
Falei:
-
Com o pé, caceta!
O
vendedor me disse:
-
Eu sei. Quero saber se é supinada, neutra ou pronada.
-
Como pro nada ? Está querendo dizer que eu corro pra nada?
-
Não. Tô querendo dizer que existem vários tipos de pisadas e... (mais blá, blá,
blá).
-
Ah...tendí. Só que não sei não.
-
Então vamos ali, que temos um equipamento para detectar qual é a sua pisada.
Fui...
tirei calçado, meias, subi, pisei e me disseram que minha pisada é supinada.
Piso
mais com o lado externo do pé.
É
verdade. Sempre notei que meus calçados gastam mais no lado externo, na parte
do calcanhar.
E
aí?
Qual
o tênis indicado?
-
Temos este aqui, que tem o melhor amortecimento também. Nike Vomero.
Experimentei.
Caraca!
Parece que estamos pisando nas nuvens.
Parece
que tem molas.
-
Vou levar.
Bom...
Depois
de um certo tempo correndo com ele, fui fazer uma transição para o Ironman 2009
e o Ivan (meu técnico) ainda comentou:
-
Marcão, esse tênis é muito mole.
Eu:
-
E...???
Ele:
-
Não acho bom. Gasta logo. Muda a pisada, etc., etc. e tal.
Fiquei
meio cabreiro.
Depois
de um tempo, mudei para o Asics Nimbus. Uma versão, digamos, mais light
do Vomero, mesmo assim com bastante amortecimento e correção da pisada
supinada.
Fiz
meus 4 Irons com esse tipo de tênis, treinando e fazendo as provas.
Voltando
devagar às origens
Com
o tempo, fui percebendo que, para as provas do Troféu Brasil (Olímpicas) e até
as Long Distances (Pirassununga), corria melhor com um tênis que a Asics
nem fabrica mais: o Stratus. Pisada neutra e solado mais baixo, além de
ser bem mais leve.
Resolvi
ir voltando às minhas origens e começar a usar tênis mais baixos e leves.
Comprei
um New Balance Mínimus.
Uso
direto nos Olímpicos e me sinto muitíssimo bem, além de voltar à sensação de
correr quase descalço.
A
besteira
Mas,
por medo de lesões, continuei a usar o Nimbus nos treinos.
Só
que...
Sempre
tem um “só que”...
Pensei
em usá-los (os Nimbus) até que ficassem no osso.
Porque
?
Porque
os tênis velhos são os mais gostosos de usar. Já conhecem até o tamanho das
unhas dos seus pés. Estão perfeitamente moldados à eles.
E
comecei a fazer isso justamente na fase em que, além de outros motivos, deixei
de me inscrever para o Ironman 2013, visando readquirir um pouco de velocidade,
fazendo provas olímpicas e um ou outro Meio-Iron.
Isso
implica em treinar de forma diferente, priorizando um pouco mais os treinos de
velocidade, tiros, etc.
De
repente, começaram a aparecer algumas lesões.
A
maioria nos isquiotibiais (posteriores das coxas).
Sei
de minha deficiência em alongamento, portanto comecei a caprichar mais neles.
Nada
adiantou.
Essas
lesões, que tanto eu como meu fisio (Dr. Atef) achávamos que fossem contraturas,
além de decorrentes de alguns outros fatores, foram se sucedendo.
Ele,
corretamente, me solicitou uma ressonância magnética.
Ressonância
feita, resultado:
-
Porra!
Bursite
no tendão dos ísquios?
Bursite
no iliopsoas?
Estiramento
no oblíquo externo?
Como?
Por quê? Quando? Onde?
POR
QUÊ? POR QUÊ? POR QUÊ?
Os porquês
Bom...
embora pareça impossível, sou formado em Educação Física. Pode parecer
impossível porque tenho, diria, muito conhecimento a respeito de várias coisas
que insisto em fazer de forma errada, ou pelo menos não pensando nas
conseqüências daquilo que estou fazendo.
Então,
busquei lá no fundo da mente os conhecimentos de anatomia obtidos na Fefis (embora
depois achasse que teria sido mais prático dar algumas Googladas), para
identificar a localização dessas lesões.
A
bursite dos isquiotibiais é na parte posterior da coxa, perto da parte
de trás do joelho (a famosa “barriga da perna”).
A
bursite do iliopsoas é naquele músculo que se vê em forma de triângulo,
na frente do abdômen em direção à virilha (isso de quem tem “tanquinho”).
E
o estiramento no oblíquo externo é no músculo lateral do abdômen, que começa
mais ou menos na última costela das costas e termina na parte da frente do
abdômen.
Isso
significa que, apesar de sentir dor apenas na parte posterior da coxa, na
verdade as lesões foram se estendendo.
Nosso diagnóstico (do Dr. Atef e meu) é o seguinte:
Utilização
de tênis, para correção de pisada supinada, já totalmente inutilizado para esse
fim, acarretando, em vez de uma correção, uma acentuação dessa pisada.
Assim,
à medida que o tênis foi se tornando muito velho e gasto, o amortecimento na
região em que era necessário foi sendo massacrado, além do gasto normal daquela
parte do solado.
É
importante dizer que as fotos não representam a realidade do tênis após no
máximo 1km de uso.
Esses
tênis com muito amortecimento e ainda para correção de pisada têm uma vida útil
muito curta.
Dizem
que algo em torno de 400 a 500 km.
As
fotos os mostram depois de muito tempo sem utilização.
Assim,
o amortecimento deles já voltou ao normal visualmente, o que não significa que
voltaram ao normal funcionalmente.
Todas
as vezes em que me lesionei, foram utilizando esse par de tênis.
Depois
de muito quebrar a cabeça, percebi que, usando-os dessa forma, após um pequeno
trecho de corrida, quando o amortecimento já ficava no limite do desgaste, eu estava
utilizando um tênis que acentuava a minha pisada supinada.
Agora, façam o seguinte teste:
Tentem
correr qualquer distância forçando seus pés para pisar supinadamente e vejam
onde suas pernas serão afetadas.
Justamente
na região das minhas lesões. Nos isquiotibiais.
As
demais lesões são (foram) em decorrência de continuar treinando (ou tentando)
da mesma forma e com o mesmo equipamento.
Descobrindo
a pisada real
Ainda,
descobri que minha pisada nem é “supinada”.
É,
digamos, “cruzada”. O que é mais comum do que imaginava.
Ela
começa com a parte externa do calcanhar, mas termina com a parte interna da
frente do pé.
Pode-se
ver isso pelo desgaste na sola dos tênis.
Provavelmente,
os tênis mais indicados para esse tipo de pisada sejam os neutros.
Quero deixar claro que não
estou fazendo em nenhum momento uma crítica a esse tipo de calçado, seja ele
para pisada supinada, pronada ou neutra.
Acho importante registrar a
importância da utilização do calçado adequado, pelo tempo adequado, levando em
consideração a vida útil desse calçado.
De minha parte, muito
contente por ter, provavelmente, descoberto a causa das lesões, embora ainda no
período de curá-las.
Voltando aos tão queridos
tênis neutros e de solados baixos.
3AV
Marco Cyrino