domingo, 3 de junho de 2012

Orgulho de não desistir (IMBR 2012)

(Agradeço ao Mosquito, pelas fotos).

De Santos a Floripa... 10 horas
Neuza e eu saímos de Santos na 4ª feira, quase 11h00 da manhã.

Fizemos uma excelente viagem, sem nenhum contratempo.
Chegamos a Jurerê por volta das 20h30.
Até descarregar o carro, arrumar as coisas no quarto etc., só deu tempo para jantar e nada mais.
Bom, depois de praticamente 10 horas de viagem, dirigindo...

Dias antecedentes, clima diferente, decisões
Na 5ª feira, acordamos cedo, tomamos “aquele” café da manhã na Pousada dos Chás, sempre excelente e totalmente voltada para o Ironman, e fomos ao tour pela feira.

À tarde, uma corridinha leve de uns 6 km, depois blá, blá, blá... e acabou o dia.

Da noite de 5ª feira até a noite de 6ª feira, desabou o maior toró.
Na 6ª feira pela manhã, fomos ao simpósio técnico, passando por ruas com trechos alagados de tanta chuva.

Sábado, parou a chuva e o tempo estava excelente.
Estava sentindo falta do frio característico da época, na região.
Nos 3 anos anteriores, era impossível sair à noite sem estar muito bem agasalhado.

Neste ano, ao ir jantar, na 4ª feira à noite, vesti uma camiseta de manga comprida e passei o maior calor.

Estava em dúvida quanto a nadar usando a roupa com mangas compridas ou a roupa sem mangas, com a qual me sinto muito melhor, nadando mais solto.

No sábado à tarde entrei no mar só de sunga e nadei um pouco, para sentir a temperatura.
Resolvi fazer a prova com a roupa sem manga.
Foi a melhor decisão.

Chegando a hora, procedimentos prévios
Sábado 20h00... indo deitar e rezando para dormir logo e bem. Como diria o Padre Quevedo: - “Esto no existe!”.

Dormir bem, em véspera de prova, já é difícil.
Em véspera de Ironman, diria que é impossível.

Domingo, 04h00 da madruga, hora de levantar.
Vamos que vamos!

Café da manhã (manhã?), banheiro, pegar sacolas, banheiro, sair da Pousada, voltar pra Pousada, banheiro...
Fomos!

Chegar à cidade Ironman, entregar sacolas de special needs, entrar na fila da marcação de atletas, receber as marcas, entrar na transição, tirar a capa da bike, colocar garrafas e alimentação na bike, checar pneus, caminhar para a tenda, voltar e checar de novo a bike, ir definitivamente para a tenda, pegar sacola de natação, vestir a roupa de borracha, tremer de frio ou de “nelvoso”...

Conversa com Alceu, Alejandro e outros trocentos amigos (graças a Deus, por tantos amigos), colocar a sacola no lugar, olhar o relógio: 06h00...
Caracas! Fiz meu melhor tempo... kkk

Saio da transição com sensação de ter feito tudo tão rápido, que é provável haver esquecido algo (o que não aconteceu).

Largada, escolhas, pensamentos
Vamos todos caminhando para a área de largada... puta frio...
Estava me arrependendo de não ter vestido a roupa de borracha com mangas compridas, mas, sabia que iria esquentar um pouco depois.
Mas não precisava tanto.

Chegando a hora da largada... fiz minhas orações meio afastado, pedindo apenas proteção para mim e para todos os que participariam, e voltei ao bololô...

Encontrei o Rubão, bombeiro, grande nadador e brother, e fiquei atrás dele até a largada, bem perto da faixa.

Não sou o melhor nadador, mas também não sou dos piores.
Então, prefiro ficar mais à frente, para fazer o meu trajeto.

Fiquei pensando em expectativa de tempo de prova, se iria diminuir meu tempo, aumentar, etc.

Daí, recuperei minha “sanidade”:

Não teria mais essa “nóia” de expectativa, uma vez que cada Iron é diferente do outro. São tantas as variáveis, que a possibilidade de minha intenção dar errada é muito alta. Não vale a pena ficar nessa.


FUÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ!!!!!!!!!!
Chegou a hora! 07h00 em ponto, largada!
Todos para a água.

Natação  
Respeito e gosto de entender o mar, e aprendi que em Jurerê as correntezas sempre existem e são traiçoeiras.
Algumas vezes ajudam (poucas), outras atrapalham (muitas).
Desta vez atrapalhou, e muito.

Fiz minha natação bem limpa (sem muito trânsito), mas percebi que a correnteza, principalmente mais para as bóias, estava bem forte para a direita, sentido contrário ao trajeto do percurso.

Completei a primeira perna (que é maior, cerca de 2.000m) em 38 minutos.

Já na segunda perna, a correnteza estava ainda mais forte perto das bóias, e acabei inclusive literalmente encontrando atletas voltando dessa perna, vindo em minha direção, sendo que eu ainda estava indo para a bóia.

Depois de contornar a última bóia, fui jogado, junto com uma multidão de atletas, bem para longe do trajeto correto para a praia, o que nos obrigou a nadar bem mais, e em diagonal.

Ciclismo
Bem, primeira etapa cumprida e vamos nós para o ciclismo.
Desta vez sem nenhum problema na T1 (ano passado, tive alguns problemas).

Saí para pedalar e mantive uma cadência boa, constante e tranqüila.
Senti que o vento deu uma aliviada neste ano.
Terminei bem os primeiros 90 km, me hidratando e alimentando conforme programado e treinado.

Nos últimos 90 km, aumentei um pouco o ritmo e me senti super bem.
Estava simplesmente 30 minutos abaixo do meu tempo de prova do ano passado.
Cheguei ao final dos 180 km bem disposto e, pela primeira vez, larguei a bike nas mãos dos staffs e corri para a tenda.
Corri mesmo.

Transição (T2) - Percebendo o calor
Passei a mão na sacola de corrida e fui para a ala de troca de roupa.

Sentei em uma cadeira e... hããã?
Sabia que estava muito fácil para ser verdade.

Eu parecia uma cachoeira humana (pelamordeDeus, não confundam com “o Cachoeira”).

Creio que em 5 minutos devo ter perdido quase um litro de suor.
Formou-se uma poça enorme de suor em volta da cadeira.
Abaixava a cabeça para colocar o tênis, e descia um rio de líquido de minha nuca, testa, cabelo.
Parecia haver saído da natação e não do ciclismo.

Então, me dei conta de que estava calor. Muito calor.
Pensei que não existisse Ironman com calor... rsrsrs (imaginem em Kona).
Não estava preparado para isso.

Ocorre que na bike não percebemos tanto esse calor, devido à combinação velocidade + ventilação + refrigeração.
Quando essa refrigeração parou, meu radiador abriu o bico... rsrsrs

Corrida - Calor versus radiador
Ainda otimista, me hidratei o que pude, na tenda, e saí para correr.
Só que é impossível repor em pouco tempo uma perda grande e rápida de suor.

Resultado: Quebrei.
Corri os primeiros 3 km como foi possível, achando que em algum momento iria “encaixar” o ritmo.
Tentei todos os tipos imagináveis de corrida: leve, trote, firme, tiro, levíssima... nada deu certo.

Era incapaz de correr continuamente por mais de 500m.
Então vieram as “Cordilheiras” de Canavieiras.
Aquilo é um crime! hahaha.

Eu e Maneco (Manoel Roberto Jesus Pires), subindo e descendo as "cordilheiras"



Parênteses - Animação e teletransporte
Na subida mais íngreme, vejo Mosquito (autor das fotos), Verônica, Wilsinho, Cleomar e outros que vieram da Baixada, dar força para a gente.

Esse pessoal parecia onipresente.
Acho que descobriram algum meio de teletransporte.
Em todos os lugares em que eu passava, quaisquer horas, lá estavam eles, fazendo a maior zona.
E bota zona nisso!

Na última volta da bike, já voltando, na subida da serra maior, comecei a escutar ao longe algo como: tóim, tóim, tóitóitóim, bem ritmado.
Esse som foi aumentando, aumentando, até que, ao começar a descer a serra, avisto todos eles batendo com pedras no guardrail central da pista, todos os atletas fazendo festa para eles, e eles para os atletas.

Depois, encontrei-os na subida de Canavieiras, no retão de Canavieiras, nas voltas de 10,5 km, enfim, em todos os lugares.

E era muito engraçado. Eu ia passando e, de repente, aparecia a Verônica...AÊ MARCÃO... Aí, do nada apareciam os outros.
Muito bom.
BANDO DE DOIDOS!

Voltando...
No retão de Canavieiras, com uns 11 km de corrida, descobri que seria impossível fazer uma corrida boa, ou mesmo mediana.
Não conseguia me hidratar nem comer nada direito.
E suava em bicas mesmo caminhando, sendo que nos outros anos tinha de correr para me manter meio aquecido.

Plano B, numa corrida interminável  
Então só me restava colocar em prática o plano B: Terminar o Iron.
Mas que po..! E isso não é o que todos queremos?

Mas é uma luta interminável com o lado psicológico.
É a famosa briga do anjinho com o diabinho.

O anjinho diz para ir em frente e terminar.
O diabinho diz: - Para que, se você já fez 3 Irons?

Comecei a traçar estratégias que me permitissem terminar a prova.
Andava 100 passos duplos e corria (corria??? hahaha) 200 passos duplos.
Depois, andava 100 e corria 210, depois 100/220, e assim sucessivamente, até chegar aos 100/300.
Depois voltava aos 100/200.
E assim foi a corrida mais interminável até hoje.
Nunca, aquela reta de chegada foi tão longa.

Mesmo perto das 21h00, quando já deveria estar bem frio, e mesmo quase apenas caminhando, eu ainda perdia muito suor.


Chegada
Alguém chegou ao meu lado (infelizmente não consigo lembrar quem foi) e me falou: “VAI CARA, IRONMAN É ISSO, PARABÉNS”.

Só me lembro de ter respondido: “Isso é uma das coisas que fazem tudo valer a pena”.

Já na reta de chegada, ao avistar a Neuza me aguardando para entrar no pórtico, senti raiva, dor, cansaço e, sobretudo...

orgulho de não ter desistido.

Marco Cyrino

4 comentários:

  1. É isso aí, Marcão, PARABÉNS por mais um IronMan concluído...é para ter muuiiitto orgulho mesmo !!!!
    Muitos beijos para você e Neusa

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  2. Eh isso Brother. Alegria nas situações mais adversas. E curtir com os amigos isso é priceless

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  3. Grande Marcão,
    Parabéns. Fazer força quando tudo está a favor é fácil, o difícil é quando tudo joga contra, e mesmo assim você ter sucesso. A melhor vitória, não é em cima dos concorrentes, é de v contra vc mesmo.

    grande abraço

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  4. Obrigado pessoal.
    Comentários assim mefazem ter certeza de ter tomado a decisão certa.

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