sábado, 25 de fevereiro de 2012

Do Surf ao Triathlon

Estive tentando resgatar na memória meus primeiros passos no esporte.
Com isto, cheguei à conclusão de que, na década de 70, de certa forma eu já era um Triathleta.
Premonição? Talvez.
Necessidade? Com certeza.

Recapitulando
Apenas para melhor entendimento do texto a seguir, tivemos, minha família e eu, uma vida duríssima quanto ao aspecto financeiro, praticamente vendendo o almoço para comprar o jantar.

Meus irmãos começaram na "labuta" muito cedo.
Eu não fiquei atrás. Com 13 anos comecei a trabalhar.

Comprar uma prancha? Uma bike?
No money!

Iniciação em natação
Até meus 13 anos, tudo o que eu queria e sabia fazer, com relação a esportes, era jogar futebol.
Muitos campos de futebol em Santos, e uma praia excelente para essa atividade. Inclusive e principalmente, de graça!
E, modéstia a parte, eu jogava muito bem.

Só que, nessa época, fui "iniciado" no surf.
No Brasil, conseqüentemente em Santos, o surf era muito precário.

Minhas primeiras pranchas foram verdadeiros "tocos" ganhos de amigos um pouco mais abastados, que jogavam fora suas pranchas já inutilizadas.
Depois de alguns remendos com qualquer coisa que encontrava pela frente, conseguia fazer o "toco" boiar novamente, e me jogava no mar.

Treinos forçados
Cordinha? Ainda não haviam inventado.
Cair na onda, tomar uma vaca, perder a prancha numa sessão de surf no Itararé, significava ter que nadar pelo menos uns 400m até a praia, para resgatar o "toco", e tomando muitas ondas na cabeça.

Aprendi a nadar na raça, com a cabeça fora da água, respirando do jeito que desse, sem a menor noção de que existia um esporte chamado natação.
Na verdade, eu praticava (acho que ainda pratico) "salvação"... rsrsrs
Uma sessão de 2 horas de surf resultava num bom treino de "salvação", com pelo menos 2 idas até a areia, para buscar a prancha.

Iniciação em ciclismo
Como trabalhava a semana inteira, só era possível surfar nos finais de semana.
Infelizmente, ondas boas em Santos eram e são um tanto raras.
Quem surfa e trabalha depende de certa dose de sorte, para que as ondulações certas cheguem também no momento certo, ou seja, nos finais de semana e feriados.

Porém, razoavelmente perto de Santos, existem as praias do Guarujá que, por estar em uma ilha (Ilha de Santo Amaro) localizada mais a Leste, em relação a Santos, recebe ondulações melhores e mais freqüentes.
Além disto, suas praias de tombo têm um fundo melhor para prática do surf.

Santos também se localiza em uma ilha (Ilha de São Vicente), porém é praticamente "abraçada", parte pelo continente e parte pela própria Ilha de Santo Amaro, o que dificulta a entrada de ondulações de várias direções. Apenas as ondulações de Sul entram "limpas" em nossas praias.

Pedalando para surfar
Assim, aos finais de semana, eram constantes nossas idas às praias do Guarujá.
Praia do Tombo e Pernambuco eram e são as preferidas.

Das balsas de Santos (Ferryboat), até a Praia de Pernambuco, são aproximadamente 15 km.
De onde eu morava (bairro do Macuco) até às balsas, são aproximadamente 6 km.

Íamos de carro? Que carro?
Íamos de bike? Sim! Que bike? Uma Monareta de um camarada.

Ônus por usar a bike: transportar o maledeto no cano da bike, pedalando os 21 km de ida, com os joelhos abertos, e levando mais duas pranchas pesadíssimas.
Verdade seja dita. Revezávamos...
Ele pedalava uns 5km, eu pedalava os outros 16km... rsrsrs

Na volta a tortura era maior, pois além do cansaço do surf, fatalmente pegávamos vento contra, e as duas pranchas se transformavam em pára-quedas abertos.
O que nos impulsionava na ida era a enorme vontade de surfar, e na volta a enorme vontade de comer.

Iniciação em pedestrianismo
Ondas em Santos. Ôba!
Apenas uma pequena caminhada até o Itararé, em São Vicente, com a "pranchinha" embaixo do braço.
Uns 6 ou 7 km, dependendo do local em que iríamos cair no mar.

Ao chegar à praia, no canal 4, faltando ainda uns bons quilômetros até o Itararé, dependendo das condições do mar, a caminhada começava a se tornar um trote e terminava em uma corrida alucinante para não perdermos mais tempo.

Íamos descalços, sem camisa, sem dinheiro, sem nada.
Apenas bermuda, prancha, e algumas velas que serviam de parafina para passar na prancha.
Acho que devo a isso a mania de fazer provas descalço, quando comecei a participar de Triathlons (v. Triathleta da Idade da Pedra).

Na volta, a caminhada ia se tornando também um trote, e finalizava com uma grande corrida, dependendo da temperatura do asfalto (verão), ou do frio congelante (inverno).

Apesar das dificuldades e improvisos, esse foi um período ótimo.
Aliás, como muitas pessoas já disseram, é passando por dificuldades que a gente se fortalece.

Marco Cyrino

2 comentários:

  1. É isso, aí, Marcolino. A sua determinação sempre foi uma marca desde o início da sua vida e por isso você é um vencedor e merecedor de suas conquistas! Bjs para vc e Neusolina.

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