Estive tentando resgatar
na memória meus primeiros passos no esporte.
Com isto, cheguei à
conclusão de que, na década de 70, de certa forma eu já era um Triathleta.
Premonição? Talvez.
Necessidade? Com certeza.
Recapitulando
Apenas para melhor
entendimento do texto a seguir, tivemos, minha família e eu, uma vida duríssima
quanto ao aspecto financeiro, praticamente vendendo o almoço para comprar o
jantar.
Meus irmãos começaram na "labuta"
muito cedo.
Eu não fiquei atrás. Com
13 anos comecei a trabalhar.
Comprar uma prancha? Uma
bike?
No money!
Iniciação em natação
Até meus 13 anos, tudo o que
eu queria e sabia fazer, com relação a esportes, era jogar futebol.
Muitos campos de futebol
em Santos, e uma praia excelente para essa atividade. Inclusive e
principalmente, de graça!
E, modéstia a parte, eu jogava
muito bem.
Só que, nessa época, fui "iniciado"
no surf.
No Brasil,
conseqüentemente em Santos, o surf era muito precário.
Minhas primeiras pranchas
foram verdadeiros "tocos" ganhos de amigos um pouco mais abastados,
que jogavam fora suas pranchas já inutilizadas.
Depois de alguns remendos
com qualquer coisa que encontrava pela frente, conseguia fazer o "toco"
boiar novamente, e me jogava no mar.
Treinos forçados
Cordinha?
Ainda não haviam inventado.
Cair
na onda, tomar uma vaca, perder a prancha numa sessão de surf no Itararé,
significava ter que nadar pelo menos uns 400m até a praia, para resgatar o "toco",
e tomando muitas ondas na cabeça.
Aprendi
a nadar na raça, com a cabeça fora da água, respirando do jeito que desse, sem
a menor noção de que existia um esporte chamado natação.
Na
verdade, eu praticava (acho que ainda pratico) "salvação"... rsrsrs
Uma
sessão de 2 horas de surf resultava num bom treino de "salvação", com
pelo menos 2 idas até a areia, para buscar a prancha.
Iniciação em ciclismo
Como trabalhava a semana
inteira, só era possível surfar nos finais de semana.
Infelizmente, ondas boas
em Santos eram e são um tanto raras.
Quem surfa e trabalha
depende de certa dose de sorte, para que as ondulações certas cheguem também no
momento certo, ou seja, nos finais de semana e feriados.
Porém, razoavelmente perto
de Santos, existem as praias do Guarujá que, por estar em uma ilha (Ilha de Santo Amaro) localizada
mais a Leste, em relação a Santos, recebe ondulações melhores e mais
freqüentes.
Além disto, suas praias de
tombo têm um fundo melhor para prática do surf.
Santos também se localiza em
uma ilha (Ilha de São Vicente), porém é
praticamente "abraçada", parte pelo continente e parte pela própria
Ilha de Santo Amaro, o que dificulta a entrada de ondulações de várias
direções. Apenas as ondulações de Sul entram "limpas" em nossas
praias.
Pedalando para surfar
Assim,
aos finais de semana, eram constantes nossas idas às praias do Guarujá.
Praia
do Tombo e Pernambuco eram e são as preferidas.
Das
balsas de Santos (Ferryboat), até a Praia de Pernambuco, são aproximadamente 15
km.
De
onde eu morava (bairro do Macuco) até às balsas, são aproximadamente 6 km.
Íamos
de carro? Que carro?
Íamos
de bike? Sim! Que bike? Uma Monareta de um camarada.
Ônus
por usar a bike: transportar o maledeto
no cano da bike, pedalando os 21 km de ida, com os joelhos abertos, e levando mais
duas pranchas pesadíssimas.
Verdade
seja dita. Revezávamos...
Ele
pedalava uns 5km, eu pedalava os outros 16km... rsrsrs
Na
volta a tortura era maior, pois além do cansaço do surf, fatalmente pegávamos
vento contra, e as duas pranchas se transformavam em pára-quedas abertos.
O
que nos impulsionava na ida era a enorme vontade de surfar, e na volta a enorme
vontade de comer.
Iniciação em pedestrianismo
Ondas em Santos. Ôba!
Apenas uma pequena
caminhada até o Itararé, em São Vicente, com a "pranchinha" embaixo
do braço.
Uns 6 ou 7 km, dependendo
do local em que iríamos cair no mar.
Ao chegar à praia, no
canal 4, faltando ainda uns bons quilômetros até o Itararé, dependendo das
condições do mar, a caminhada começava a se tornar um trote e terminava em uma
corrida alucinante para não perdermos mais tempo.
Íamos descalços, sem
camisa, sem dinheiro, sem nada.
Apenas bermuda, prancha, e
algumas velas que serviam de parafina para passar na prancha.
Na volta, a caminhada ia
se tornando também um trote, e finalizava com uma grande corrida, dependendo da
temperatura do asfalto (verão), ou do frio congelante (inverno).
Apesar das dificuldades e
improvisos, esse foi um período ótimo.
Aliás, como muitas pessoas
já disseram, é passando por dificuldades que a gente se fortalece.
Marco Cyrino