E foi isto mesmo.
Tratei por "a onda
mais cascuda" do circuito mundial.
Putz! É muito, mas muuuito
mais do que isto!
Pelas suas características
únicas, para surfar nas ondas de Teahupoo, o surfista precisa ter absurda coragem, técnica, perícia, e uma boa
dose de loucura.
Como e por quê...
Para
que seja possível entender um pouco do que é Teahupoo...
Pronuncia-se "tchôpo", como uma onomatopéia para
o som de uma grande onda quebrando...
Há
uma bancada de corais extremamente rasa, que se torna mais rasa ainda, à medida
que a série de ondas entra em sua direção.
Uma
ondulação oceânica que venha em sua direção com apenas 1 metro de altura (ou
menos), se transforma numa parede com uns 3 metros de face, devido à variação
de profundidade.
Quem
é do surf (e muitos que não são) sabe que uma onda quebra quando atinge um
determinado tamanho em relação à profundidade.
Por
este motivo, em “beach breaks”
(bancadas de areia) as ondas são inconstantes, mas sempre quebram onde o local
é mais raso em relação aos demais, adjacentes.
Teahupoo
tem a peculiaridade de ser absurdamente rasa em relação à profundidade de
poucos metros à sua frente.
Cada
ondulação oceânica que vem de encontro a essa bancada, ao encontrá-la, suga o
pouco de água que existe nela.
Assim,
a ondulação com pouco tamanho cresce, e é como se todo o oceano viesse por cima
dessa bancada.
Imaginem
uma tsunami avançando para terra, mas com o agravante de a água à sua frente estar
sendo tragada por baixo dela.
Pois
é assim mesmo...
O fenômeno
Outra
característica marcante, ao redor dessa bancada rasa, a profundidade continua
sendo muito grande.
Isto
faz com que simplesmente a onda acabe por ali, e
os barcos de apoio, jet skis, surfistas, fotógrafos e demais observadores
estejam a salvo da onda nesse local.
Como
é uma onda que só se pode surfar para a esquerda (ponto de vista de quem rema
para entrar na onda), todos ficam no "canal" também à esquerda dessa
bancada (ponto de vista de quem olha para a praia... Praia???)
Resumindo,
a junção destas características gera um notável fenômeno de desnível oceânico entre a região do canal e a região
da bancada, onde quebram as ondas.
Estas imagens alucinantes permitem
avaliar o que é Teahupoo.
[Fotos e desenho
esquemático obtidos da Internet - autores desconhecidos ou não creditados pelos
incontáveis websites de origem.]
Vítimas...
Infelizmente,
Teahupoo já fez algumas vítimas fatais, inclusive surfistas profissionais.
Não
quero falar sobre isso agora...
Fez
também algumas vítimas que sobreviveram para contar a história.
Entre
elas, Neco Padaratz, irmão mais novo de Teco Padaratz que, no auge de sua carreira, após
já ter vencido algumas etapas do WCT, e com totais condições para ser campeão
mundial, levou um caldo nessa onda, durante a etapa do circuito, permanecendo
por alguns minutos preso embaixo dágua, pela sua cordinha enroscada nas cabeças
de corais
Foi
salvo, mas passou a ter verdadeiro trauma dessa onda.
Depois
disso passou anos sem ter coragem de encarar novamente Teahupoo.
Um aparte sobre abutres...
Pra
variar, assim como no Triathlon, existem os
abutres esperando uma escorregada de quem tem talento.
Quando
isso acontece, não perdem a oportunidade de tripudiar.
Neco
comeu o pão que o diabo amassou, com as críticas de que seria "amarelão",
covarde, e daí pra baixo.
É
engraçado (aliás, é trágico) como existem seres que não fazem absolutamente
nada de útil na vida, mas esperam uma fatalidade atingir alguém bom em sua área,
para criticá-lo.
Isto
acontece em todas as atividades, mas principalmente nos esportes.
Imaginem
um sujeito que nunca dropou mais de 1 metro de onda criticar o Neco por seu
trauma de quase morrer afogado em Teahupoo.
Imaginem
um cara que nunca correu mais que 10 km criticar um atleta que "quebrou"
no Iron de Kona.
É
assim que o mundo funciona.
Depois,
para calar a boca dos críticos, 5 anos depois, em 2005, Neco participou
novamente da etapa de Teahupoo e, em uma de suas baterias, com o mar enorme, recebeu
uma nota 10 unânime.
"Quebrou
geral"... e superou seus fantasmas.
Uma
pesquisa no Google mostrará muitos resultados sobre isto, caso duvidem.
Voltando
Teahupoo
também já fez muitos heróis.
Kelly Slater, Bruno Santos,
entre outros.
Mas,
talvez o momento mais casca-grossa deva ter sido este, protagonizado por Laird Hamilton surfando uma ondulação enorme de
town-in.
Não há muito que falar a respeito.
As imagens valem por quaisquer
palavras.
Laird Hamilton takes on
Teahupoo
Vídeo de 27/08/2011.
"Código
vermelho", competição suspensa devido às condições de alto risco do mar.
Sinal verde para os
loucos que quiseram se arriscar.
Enjoy!
Marco Cyrino
Em 2005, Kelly Slater teve a melhor temporada da sua carreira. Apesar disso, aquele ano não começou bem para ele. Com derrotas e resultados fracos nas primeiras provas, Slater chegou para o evento de Teahupoo, no Taiti, sem o favoritismo que geralmente o cerca considerando a disputa pelo título do WCT.
ResponderExcluirDurante uma bateria duríssima contra o havaiano Bruce Irons, Slater estava perdendo por combinação (precisando de uma combinação de notas para superar o adversário), o que significa basicamente estar perdendo de goleada no futebol. “Eu achei que estava tudo perdido, quando decidI deixar toda aquela preocupação de lado. Decide que eu deveria parar de me preocupar com a competição, com as notas, com tudo aquilo, e como essa preocupação estava afetando os meus resultados”, conta Slater. O que aconteceu em seguida foi considerado por muitos como o momento mais antológico do surf competição. Vale o registro...
Ricardo,
ResponderExcluirBom ter alguém acompanhando que também tenha interesse e conhecimento de Surf.
Ótimo comentário.
Aloha